quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Deputado Pastor propõe ensino religioso obrigatório. Era só o que faltava...



Por Pedro Júnior

Primeiramente posto a matéria, em seguida comento.


O Dep. Federal Pastor Marco Feliciano, apresentou no dia 09/02/2011 o projeto de Lei n° 309/2011, instituindo o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas. O Deputado foca a sua atuação numa campanha que pretende atingir todas as pessoas que se preocupam com a formação básica da primeira infância e dá o nome a ela de “PAPAI DO CÉU NA ESCOLA”. Todavia, tendo todo o cuidado de não fazer proselitismo religioso, pois temos que respeitar todos os seguimentos religiosos.  Citando o texto Bíblico do livro de Provérbios 22:6 “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele” -defende a importância do ensino religioso nas escolas, justificando-se conhecer a existência de matéria nos currículos escolares, porém agora, tornando matéria obrigatória nos “CURRICULOS ESCOLARES DO ENSINO FUNDAMENTAL”,circunstancia de que  o ensino religioso é a base histórica dos princípios morais e éticos da sociedade.
O Deputado ainda faz lembrar que todos os países que embora laicos não preservaram tais ensinamentos, tiveram que fazer o controle da ordem social com ditaduras das mais sanguinárias.
Em discurso feito cita o romancista russo Fiodor Dostoievski ao dizer: “Há, no homem, um vazio do tamanho de Deus”, e disserta: “O homem pode até tentar preencher o vazio de sua vida com outras coisas, mas isso jamais será suficiente para que alcance sua plenitude”.
O Deputado argumenta sobre a falta da disposição do tempo dos pais para praticarem o ensino da fé em Deus aos seus filhos e sobre a banalização da vida. Crianças estão sendo vítimas de overdose de drogas dentro das escolas, o crack está destruindo a mente dos filhos desta pátria – afirma o Deputado. A falta do respeito para com os educadores bem como a violência dentro das escolas mostra que o moral,  a ética e o respeito ao próximo são valores ignorados, por isso precisamos resgatar o ensino religioso em nosso país, e isto de maneira sábia, simples e coerente  – continua. Quero ver os filhos desta nação voltarem a pedir a benção aos seus pais antes de dormirem, e olharem para a imensidão do cosmos e dizer: HÁ UM PAPAI DO CÉU QUE CUIDA DE NÓS! – termina.

Pode parecer uma piada de mau gosto, mas não é. E uma quantidade impressionante de pessoas leva essa proposta muito a sério. Trata-se de uma proposta do Deputado Pastor  M. Feliciano, cujo objetivo é tornar obrigatória na grade de ensino das escolas brasileiras a disciplina de ensino religioso. Trata-se de uma afronta à liberdade religiosa, ao Esta laico e à consciencia informe de milhões de crianças e adolescentes espalhados pelo Brasil. 
É uma afronta à liberdade religiosa pois não leva em consideração as mais diversas crenças existentes no mundo, entre elas a crença na inexistência de qualquer entidade divina. Os pilares judaico-cristãos serão repassados em sala de aula por professores comprometidos com determinada fé e, em geral, são completamente despreparados para tal missão (falo com conhecimento de casos).
É uma afronta ao Estado laico pois este, enquanto tal, não deve obrigar ou sequer sugerir que o ensino religioso seja ensinado, pois deve resguardar e respeitar a pluralidade de fé e da falta de fé que existe na sociedade brasileira. Para ensinar os princípios religiosos às pessoas é que existem os templos, igrejas, etc, que são frequentados por aqueles que o desejam e escolhem de livre e espontânea vontade a fé que lhe seja mais atraente.


Considero ainda um desrespeito à consciência de milhões de crianças e adolescentes pois que, em sua grande maioria, ainda estão em formação. Durante esse período de formação é preciso muito cuidado ao ministrar essa disciplina, que pode facilmente se tornar proselitista e causar constrangimento a algum aluno que, eventualmente,  se declare ateu. A formação religiosa dos jovens deve ser trabalhada atendendo ao questionamento dos mesmos e apresentando a pluralidade de explicações existentes e dando a opção de livre escolha por parte dos mesmos. Tudo isso, preferencialmente, no ambiente do lar. Não na escola.


Mas gostaria de saber se o Deputado Pastor é favorável ao ensino de religiões que firam frontalmente os dogmas cristãos, como aquelas de matriz afro-brasileira, geralmente achincalhadas e demonizadas em alguns templos evangélicos. E o islamismo, será contemplado? E o budismo, o hinduísmo?


Espero que tal projeto não seja aprovado, e que tenha servido para duas coisas: primeiro, logicamente, para atender a demandas provenientes de seus eleitores evangélicos, que adorariam ver a fé cristã sendo propagada em escolas com a benção estatal. E segundo, e mais importante, para que o debate em torno do tema permita que a nação brasileira amadureça e fortaleça o caráter laico e democrático das instituições públicas.

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