quinta-feira, 31 de março de 2011

Soldados americanos executam civis inocentes no Afeganistão e posam com seus corpos como troféus



As imagens "repulsivas" (na definição do Spiegel, de onde as retirei, a partir de uma postagem do Blog do Gadelha) mostram soldados americanos exibindo o corpo de um civil assassinado por eles. O Spiegel afirmou que tem várias outras imagens semelhantes e vídeos.

Segundo a reportagem um grupo de 12 soldados americanos vai à corte marcial por atos que o coronel das forças armadas dos USA Thomas Collins classifica como "repugnantes para nós como seres humanos e contrários às normas e valores dos Estados Unidos".

Na mesma linha, um comunicado do exército americano afirma que "[a ação dos soldados está] em absoluto contraste com a disciplina, o profissionalismo e o respeito que têm caracterizado o desempenho dos nossos soldados".

Não é o que afirma o ex-marine Jimmy Massey, que trabalhou durante 12 anos no exército dos EUA:

Jimmy Massey: Durante quase 12 anos ele foi um marine. Trabalhou no recrutamento de jovens para guerra no Iraque. E comandando seu pelotão no solo iraquiano.

Recentemente, esteve em Caracas, na Venezuela, para lançar seu livro Cowboys de Infierno. Na ocasião, deu uma entrevista à jornalista Rosa Miriam Elizalde. A seguir, trechos da entrevista, que pode ser lida na íntegra aqui (em espanhol).

Jimmy Massey por ele mesmo


Tenho 32 anos e sou um assassino psicopata treinado para matar. Não nasci com essa mentalidade. Foi o Corpo de Infantaria da Marinha dos EUA que me educou para ser um gângster das corporações americanas. O que sei fazer é vender aos jovens a idéia de alistar-se nos marines e matar. Sou incapaz de conservar um trabalho. Para mim os civis são desprezíveis, atrasados mentais, uns fracos, uma manada de ovelhas. Eu sou seu cão pastor. Sou um predador. No Exército me chamavam "Jimmy o Tubarão".

Marines


Os Estados Unidos só têm duas maneiras de usar os marines: para tarefas humanitárias e para assassinar. Nos 12 anos que eu passei no Corpo de Marines dos Estados Unidos jamais participei de missões humanitárias.

O que significa ser um recrutador militar nos EUA


Ser um mentiroso. A administração Bush tem incentivado a juventude americana a alistar-se no Exército e o que basicamente faz – e eu fiz também - é atraí-los com incentivos econômicos. [Se tiver estômago para imagens fortes, visite esta página, com mais informações e fotos – algumas bem chocantes – dos soldados americanos que acreditaram nas promessas de Bush]. Durante três anos recrutei 74 pessoas, que nunca me disseram que queriam entrar no Exército para defender o país nem alegaram nenhuma razão patriótica. Queriam receber dinheiro para ir a uma universidade ou obter um seguro de saúde. E eu lhes descrevia primeiro todas essas vantagens e só ao final lhes falava que iam servir à pátria. Jamais recrutei o filho de um rico.

Iraque: O ‘inimigo’ armado pelos EUA


Cheguei ao Iraque em março de 2003. Meu pelotão foi a vários lugares antes ocupados pelo Exército iraquiano. O que vimos foram milhares e milhares de caixas de munições que levavam a etiqueta norte-americana e estavam aí desde que os Estados Unidos ajudaram o governo de Saddan Hussein na guerra contra o Irã. Vi caixas com a bandeira norte-americana e até tanques dos EUA. Meus marines – eu era sargento de categoria E6, uma categoria superior ao sargento, e dirigia a 45 marines - me perguntavam por que havia munições de nosso país no Iraque. Não entendiam. Os relatórios da CIA afirmavam que Salmon Pac era um campo de terroristas e que íamos encontrar armas químicas e biológicas. Não encontramos nada. Nesse momento comecei a pensar que nossa missão realmente era o petróleo.

Discriminar pessoas não é um direito



O enunciado contido no título deste texto deveria ser um truísmo, verdade incontestável ou evidente por si mesma, coisa tão óbvia que não precisa ser mencionada, uma banalidade, uma obviedade. Mas, espantosamente, não é. Discriminar ainda é visto – e vendido – por alguns como um “direito”, ou, como gostam de dizer, “liberdade de expressão”.
Discriminar pessoas, porém, não é e jamais será um direito. Dá para discordar de premissa tão evidentemente legítima? Não são muitos, os que discordam. Mas existem e têm muito espaço para dizerem suas “idéias” por terem representantes de peso do ponto de vista de que discriminar seria “direito” ou “liberdade” de algum tipo.
Ninguém assume que discrimina outras pessoas, claro. A imagem do discriminador é negativa, de alguém intolerante e estúpido. As acepções do verbo discriminar, porém, quando analisadas, permitem enquadrar a todos aqueles que juram que não estão discriminando quando agem da forma que tais acepções detalham.
Discriminar é um verbo transitivo. Portanto, pede paciente da ação discriminatória. Segundo o dicionário Hoaiss, é perceber diferenças, distinguir, discernir. Mas não só. É, também, colocar alguém ou alguma coisa à parte por algum critério para especificar, classificar, listar.
E a amplitude da discriminação não pára por aí. Discriminar é não (se) misturar, é formar grupo à parte dos portadores de alguma característica étnica, cultural, religiosa etc., vedando sua presença em meios sociais e locais pré-especificados.
O recente episódio envolvendo o deputado Jair Bolsonaro em mais uma agressão à sociedade, agressão essa igual a todas aquelas que freqüentemente atira,  deixa ver em que a discriminação se traveste de forma a cumprir suas características intrínsecas.
Os insultos de Bolsonaro a Preta Gil, por exemplo, a discriminaram pela cor da pele e por uma sua suposta preferência sexual. Como a lei brasileira só criminaliza a discriminação por etnia, mas não criminaliza discriminação por ideologia, o deputado racista e homofóbico refugiou-se na homofobia.
Esse tipo de comportamento se deve a três coisas que o deputado não entende: a natureza do ato de discriminar, o fato de que discriminar homossexuais tem um nome, homofobia, e a natureza da homossexualidade.
Toda vez em que você critica pessoas publicamente por suas características intrínsecas, tais como cor da pele, origem geográfica, crença religiosa ou comportamento sexual, entre outros, está, sim, discriminando, pondo à parte e condenando pessoas por uma faceta delas que não têm como mudar.
Quem se sente agredido pela forma como uma pessoa se satisfaz afetiva e sexualmente e se julga no direito de exortar outras pessoas a agirem da mesma forma, tem uma qualificação: homofóbico.
Fobia a homossexuais. Fobia, mais uma vez de acordo com o dicionário, é aversão insuportável, para simplificar. Pode ser patológica, mas não necessariamente. Em geral, é um aspecto cultural do indivíduo que se deve ao meio social em que nasceu e cresceu. Ou a desejo inconsciente.
Já a natureza do comportamento homoafetivo, essa é a parte que menos entende gente como Bolsonaro ou um Reinaldo Azevedo e outros “formadores de opinião” que vivem pregando o “direito” de discriminar homossexuais por palavras e atos públicos.
Um homossexual não pode mudar sua natureza tanto quanto um negro não pode mudar de pele, mesmo que quisessem. A atração pelo mesmo sexo independe da vontade. Homossexuais percebem suas tendências ainda na infância.
A homossexualidade é tão natural nos seres vivos que entre os animais irracionais ela ocorre intensamente. Os símios, por exemplo, praticam homossexualismo. E não é por falta de “porrada”, como pensa o inculto deputado do PP fluminense.
Comentário de um leitor que vetei, mas que não deletei porque pode exemplificar a desinformação dos que crêem no “direito” de discriminar,  permite mostrar a natureza dessa ideologia bizarra. O nome da pessoa, aliás, não importa. Há muitos outros iguais. Vale tampar o nariz e ler, para entender o que essas pessoas pensam:
Só vou acreditar nessa raivinha toda se um dia processarem um preto que falou mal de branco ou quando um branco puder lançar uma revista com o nome de Raça Branca, uma banda Brancura Junior ou andar com camiseta 100% Branco sem ser importunado.
Aliás, deveriam explicar por que a maioria dos pretos, quando sobe na vida, casa com brancas, por que a obsessão nacional com as louras e por que a África não vai para a frente.
Deveriam, mas não podem, porque o verdadeiro debate racial está interditado pelos fricotes da claque politicamente correta como a que abunda aqui.
O mesmo vale para os veados e sapatorras: eles podem esculhambar impunemente as instituições tradicionais, mas não podem ser minimamente criticados.
E Bolsonaro está certissimo quanto ao regime militar: tinha-se mais autoridade, mais progresso e mais segurança (menos para a esquerdalha tirânica que queria implantar a força o comunismo aqui, claro).
E, verdade também, os presidentes miilitares serviram ao país e não enriqueceram, como os que vieram depois (exceto Itamar).
Já a Preta Gil, bem , sem comentários…Viva Bolsonaro, um dos poucos que ousam dizem a verdade na era da ditadura do politicamente correto!
Tente controlar a repulsa. Analise o que essa pessoa não entende, e que é o seguinte:
1 – Falar mal de branco também é crime. O que a lei tipifica é a discriminação por etnia, não só pela etnia negra. Mas discriminar branco não é tão combatido porque brancos não foram escravizados.
2 – Não há estatísticas sobre ser a “maioria” dos “pretos” que se une a “brancas”, mas mesmo se for verdade isso decorre da estigmatização dos negros, associados ao insucesso pela situação de penúria que o racismo lhes produz.
3 – A África negra – que foi aquela à qual o comentarista quis se referir – vai para frente, sim. Está indo. Não foi antes porque foi saqueada pelos brancos.
4 – Debate racial é racismo, um crime, uma perversão que quer discutir a cor da pele das pessoas, tornando alguns seres humanos inferiores a outros.
5 – Os “veados e sapatorras” a que esse infeliz se refere não “esculhambam” nada, apenas exercem o direito de se relacionarem sexual e afetivamente com quem bem entenderem. Querer escolher o que devem sentir em termos de desejo e paixão, é uma barbaridade.
6 – Ninguém passa a gostar de jiló por ver alguém comendo jiló. As escolhas gastronômicas, em alguma medida, explicam por que uns gostam de pessoas do sexo oposto e outros, de pessoas do mesmo sexo.
O resto do que o indivíduo diz, é direito dele. Se gostou da ditadura, é a opinião política dele e tem o direito de dizê-la, assim como qualquer um tem direito de discordar. Deve-se, aliás, debater esse assunto, mas essa é outra discussão.
O resumo de tudo é que não se pode confundir apologia aos crimes de racismo e de homofobia (que é crime mesmo não sendo assim tipificada em lei, ainda) com liberdade de expressão. Enquanto a sociedade brasileira permitir que até um deputado cometa tais crimes, continuaremos a ser um país ainda incivilizado.

Fonte: Blog da Cidadania

Para lembrar o golpe

Por Luciano Martins Costa em 31/3/2011
Comentário para o programa radiofônico do OI, 31/3/2011
Não poderia haver manifestação mais representativa para marcar os 47 anos do golpe de 31 de março de 1964 do que a mais recente performance pública do deputado-capitão Jair Bolsonaro (PP-RJ). Ao dar ampla publicidade aos destemperos preconceituosos do parlamentar, a imprensa ajuda os mais jovens, que não viveram o período da ditadura, a entender a mentalidade que os militares tentaram impor à sociedade brasileira durante os vinte anos do regime.
Jair Bolsonaro é um representante típico daquele período, embora, para seu desgosto, não tivesse idade para assumir postos de poder. Nascido em Campinas, em 1955, ele era criança quando ocorreu o golpe, mas teve sua formação militar durante o regime autoritário. Suas referências são, portanto, de ouvir falar e das ordens do dia que recebia no quartel.
Liberdade desprezada Ele parece não ter aprendido mais nada de1984 para cá, quando o Brasil iniciou seu processo de redemocratização. A oportunidade para mais uma de suas manifestações obscurantistas foi criada pelo programa CQC, transmitido na segunda-feira (28/3) pela Rede Bandeirantes.
Respondendo perguntas gravadas pela cantora Preta Gil, ele deu vazão a seus preconceitos contra homossexuais e negros. Posteriormente, ameaçado de processo por quebra de decoro, acovardou-se e tentou se justificar, dizendo que se confundiu com uma pergunta, embora ainda mantendo o tom agressivo que o caracteriza.
Ele escolheu um momento emblemático para tentar se explicar: o velório de outra personalidade pública, o ex-vice-presidente José Alencar Gomes da Silva. "Estou me lixando para gays", esbravejou o parlamentar.
No noticiário de quinta-feira (31/3), não há como escapar à comparação entre sua personalidade e a de Alencar, que recebe justificadas homenagens através da imprensa.
O episódio envolvendo Bolsonaro é um desses casos em que a liberdade de imprensa ajuda a entender o que são as demais liberdades. Ao exercer a liberdade de expressão que, como defensor das ditaduras, sempre desprezou, o deputado inspira um debate interessante sobre os limites da tolerância democrática.
Terrorismo e covardia O capitão-deputado Jair Bolsonaro é personagem patético, cujas diatribes beiram o ridículo em ambientes menos obscuros. Sua presença na Comissão de Direitos Humanos da Câmara é uma dessas provocações.
Como militar, ele pertence à estirpe do hoje coronel Wilson Luiz Chaves Machado, que em 1981 foi um dos conspiradores que tentaram armar um ato terrorista durante um show de música no Riocentro, e que hoje se esconde da Justiça atrás de supostos interesses de Estado.
Talvez a imprensa pudesse aproveitar a grotesca manifestação do parlamentar para lembrar aos brasileiros do que são capazes personagens como esses. Para ilustrar os mais jovens sobre o padrão de covardia que se mantinha no regime militar, basta lembrar que o então capitão Wilson Machado foi um dos agentes que tentaram explodir uma bomba durante um show comemorativo do 1º de maio, em 1981, no Rio de Janeiro.
A bomba acabou explodindo no colo de seu companheiro de terrorismo, o sargento Guilherme Pereira do Rosário, o episódio vazou para a imprensa mas acabou abafado pelas pressões do governo militar e por conveniência de alguns grupos de comunicação.
No dia em que se registra mais um aniversário do golpe militar que remeteu a sociedade brasileira para o passado, talvez fosse o caso de rememorar um dos episódios mais representativos da mentalidade que predominava em certos setores das Forças Armadas, dos quais Jair Bolsonaro é representante no Congresso Nacional.
Também é apropriada a ocasião, produzida por Bolsonaro, para rememorar o episódio de 1981 no Riocentro, apontar os comandantes do atentado que colocaria em risco a vida de 18 mil jovens, e, por que não, esclarecer como agiram os veículos de comunicação na ocasião.
Seria um excelente contraponto às homenagens que se fazem ao outro personagem da semana, o ex-vice presidente José Alencar.

Jean Wyllis: Bolsonaro é “covarde”

Bolsonaro é demente ou está debochando, diz Jean Wyllys
por André Mascarenhas, no Estadão
30.março.2011 18:34:44
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) classificou de “estratégia” o fato de Jair Bolsonaro (PP-RJ) ter recuado da declaração de que seria “promiscuidade” se seu filho se apaixonasse por uma negra, dada ao programa CQC da TV Bandeirantes. Bolsonaro afirmou não ter entendido a pergunta de Preta Gil, mas Wyllys vê cálculo político na justificativa do colega.
“É preciso desmascarar a tentativa dele de se safar do crime de racismo. É deboche à inteligência das pessoas dizer que ele se confundiu. Não dá pra confundir mulher negra com homossexual como ele está querendo dizer. Ou ele é demente ou está debochando”, afirmou o deputado do PSOL ao Radar Político.
Wyllys, que é homossexual assumido, afirmou serem naturais as novas declarações de Bolsonaro atacando os homossexuais. Nessa quarta-feira, durante o velório do ex-vice-presidente José Alencar, Bolsonaro afirmou que estava “se lixando” para o movimento gay.
“Ele está invocando essa homofobia odiosa porque sabe que a violência contra homossexual goza de mais aceitação pela sociedade. Ele sabe que foi traído pela língua e que pode ser cassado pelo racismo, então ele está tentando dizer que é ‘só’ homofóbico. Ele está com medo e é covarde”, disse Wyllys.
O deputado do PSOL lamentou ainda as manifestações favoráveis a Bolsonaro em rede sociais na internet e chegou a comparar a atitude do deputado com a propaganda nazista. “Há precedente na história de essas ideias terem eco na sociedade porque as pessoas têm ódios adormecidos. Temos sempre que lembrar que parte da Alemanha foi conivente com o Holocausto e a máquina nazista de assassinar judeus e homossexuais. Temos que lutar contra essas declarações porque isso desperta o que há de pior nas pessoas.”

Fonte: Blog Vi o Mundo

Golpe de 1964: Quem tem medo da verdade?

Reproduzo artigo de Nilmário Miranda, publicado no sítio da Carta Maior:

Eu não tinha 17 anos quando veio o golpe, destruindo meus sonhos das grandes reformas de base. Morava na então pequena Teófilo Otoni (MG). Os ferroviários da lendária Estação de Ferro Bahia-Minas cruzaram os braços. Foi o único e solitário protesto (no ano seguinte a EFBM foi extinta).

Em poucos dias nada menos que 74 pessoas foram presas pelos “revolucionários” e levados ao QG dos golpistas em Governador Valadares. Ferrovias, comerciários, bancários, estudantes, militantes da Igreja, do Partidão, do PTB, pequenos comerciantes – dentre eles meu pai, uma pessoa pacata, educada, incapaz de fazer mal a ninguém, uma alma gentil.

Chocou-me também a prisão de Dr. Petrônio Mendes de Souza, ex-prefeito, médico dos pobres, figura hierática. Lá pelos dias encontrei-me com o filho do ferroviário Nestor Medina, carismático, inteligente, autodidata, homem de grande dignidade. Desde aquela noite fiz juras de por todos os dias enquanto durasse, combateria a ditadura, o que realmente aconteceu.

No ano seguinte mudei para Belo Horizonte para estudar e participar da resistência. 1968 foi o ano do crescimento da oposição à ditadura. A Marcha dos Cem Mil no Rio; as duas greves (Contagem e Osasco) desafiando a rigorosa legislação anti operária; a fermentação no meio cultural; a Frente Ampla que uniu o impensável (a UDN de Carlos Lacerda, o PSD de JK, o PTB de Jango); as primeiras ações da resistência armada. A recusa da Câmara de conceder a licença para processar Márcio Moreira Alves foi um pretexto para a edição do AI-5 em 13 de dezembro, instituindo o Terror de Estado.

Eu respondia a processo pelo LSN depois da prisão por 32 dias após a greve de Contagem; vi-me em um dilema: sair do país, para o exílio; ou cair na clandestinidade. Estudava Ciências Econômicas na UFMG. Optei pela resistência na clandestinidade, aos 21 anos. Todas as portas foram fechadas; os espaços para a oposição foram extintos.

Desde as prisões em Ibiúna de mais de 700 estudantes de todo o país, as odiosas listas negras para os trabalhadores rebeldes, a “aposentadoria” forçada de três ministros do STF como recado para amordaçar a Justiça, a censura prévia na imprensa, o fim do habeas corpus. A polícia política tinha dez dias de prazo para apresentar o detido ao juiz militar, e a criação de centros de detenção e tortura na prática era a institucionalização da tortura.

Passar à resistência clandestina era a opção de colocar a própria integridade física em risco. Mas essa foi a opção de milhares de brasileiros. Nada menos que 479 pessoas foram eliminadas, 163 das quais se tornaram desaparecidos políticos.

Denominar a ditadura de “ditabranda” é piada de péssimo gosto. Pior ainda é a insistência de alguns comandos militares de comemorar o 31 de março como uma “revolução democrática”, em desafio à cúpula militar que retirou esta data do calendário de efemérides.

Aprovar e instalar a Comissão Nacional da Verdade, confiando à sete pessoas idôneas, probas e éticas a tarefa de passar os 21 anos da ditadura à limpo dá uma interpretação fiel ao que se passou no país para constar dos livros e currículos escolares, inclusive das academias militares. É mais uma grande e importante etapa na construção de nossa democracia, incorporando o direito à verdade.

(*) Nilmário Miranda é jornalista, Presidente da Fundação Perseu Abramo, ex-Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH) [e membro do conselho consultivo do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé].

quarta-feira, 30 de março de 2011

Homofóbico e racista, Bolsonaro afina

Rcproduzo artigo de Rogério Tomaz Jr., publicado no blog Conexão Brasília-Maranhão:
Com todas as suas limitações e contradições, a democracia política que experimentamos hoje garante liberdade suficiente para que exista todo tipo de posição política/ideológica.

Nesse regime, até excrescências como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) podem existir.

Saudoso dos tempos em que liberdade de expressão no Brasil não passava de quimera, Bolsonaro jamais admitiria, mas deve sua visibilidade justamente à liberdade política que hoje vigora no País, apesar de — e contra — gente como ele.

Menos de vinte e quatro horas após a exibição de uma entrevista sua — ao quadro “O Povo quer saber”, do CQC — em que destila homofobia e racismo em doses concentradas, o deputado valentão afinou.

A repercussão da entrevista, sobretudo da resposta à pergunta da cantora Preta Gil, foi extremamente negativa.

É certo que o racismo ainda existe e é muito forte nas entranhas da nossa sociedade. Entretanto, a sua manifestação explícita, especialmente por uma pessoa que exerce cargo público e da qual se espera seriedade e responsabilidade, é sempre alvo de intensa e inequívoca rejeição, ao contrário da homofobia, não apenas tolerada, mas exaltada e difundida de todas as formas e em quase todos os espaços (*).

Em discurso no plenário da Câmara, na tarde de terça (29), Jair Bolsonaro — perdoem a expressão chula — “cagou ralo”, abaixou o tom de voz, provavelmente por medo de perder o mandato, e tentou remediar o irremediável.

“Eu quero crer que foi um erro meu, que me equivoquei-me na pergunta”, afirmou um sóbrio e calmo Bolsonaro, em raro ou único pronunciamento onde não achincalhou parlamentares de esquerda e/ou atuantes em direitos humanos.

Agora vai responder a representação onde é acusado de quebra de decoro, por cometer o crime de racismo, e poderá perder o mandato e, junto com ele, a tribuna privilegiada para seus arroubos e provocações de moleque de recados dos milicos de pijamas.

Também na terça, um grupo de quase vinte deputados e deputadas, de quatro partidos (PCodB, PDT, PT e PSol), protocolou na Presidência e na Corregedoria da Câmara uma representação contra Bolsonaro (**). O documento também será encaminhado ao Ministério Público Federal e ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), principal órgão colegiado de direitos humanos em nível federal.

Os deputados petistas Édson Santos (RJ) e Luiz Alberto (BA), ambos militantes do movimento negro, eram os mais indignados. “A declaração é indigna de um representante da sociedade e a tentativa posterior de remediar a situação é um ato de covardia”, classificou o primeiro. “Ele não emitiu apenas uma opinião, algo que é garantido pela imunidade parlamentar, mas cometeu um crime previsto em lei”, arrematou o baiano.

Se a cassação virá, ninguém pode afirmar. De qualquer modo, o recuo do falastrão indica que até mesmo ele possui nítida noção de que existem limites para o reacionarismo.


* Sou defensor incondicional da aprovação do PLC 122 (clique aqui para conhecer), projeto de lei que criminaliza a homofobia e pode frear ou diminuir a violência cotidiana que, no Brasil, causa a morte de uma pessoa a cada dois dias. Vale ressaltar que, ao contrário do que dizem alguns pastores, padres e outros fundamentalistas religiosos, a aprovação do PLC 122 não significa “mordaça” ou interferência do Estado nos assuntos religiosos. O PLC 122 trata apenas de garantir o respeito à Constituição, que proíbe qualquer tipo de preconceito ou discriminação. Entre muitas outras, uma das maiores mentiras a respeito do PLC 122 é o boato estapafúrdio dizendo que as igrejas serão obrigadas a celebrar casamentos gays.

** O texto da representação e a lista dos signatários seguem abaixo (clique em Leia Mais). Para apoiar a manifestação, escreva para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (cdh@camara.gov.br):

terça-feira, 29 de março de 2011

Os deputados Brizola Neto e Jean Willys representarão contra Bolsonaro



Por Brizola Neto


Conversei mais cedo com o deputado Jean Willys, do PSOL,  e combinamos entrar conjuntamente com uma representação aqui na Câmara contra as declarações  do deputado Jair Bolsonaro ontem, no CQC.
Ele está tergiversando, diante da repercussão do caso e dizendo que não foi racismo, mas uma critica ao comportamento pessoal de cantora e apresentadora, como registra o Terra Magazine:
- Eu entendi que ela me perguntou o que eu faria se meu filho namorasse um gay (…) Se eu tivesse entendido assim (da forma como a pergunta foi feita), eu diria: ‘meu filho pode namorar qualquer uma, desde que não seja uma com o teu comportamento’. Se eu fosse racista, eu não seria maluco de declarar isso numa televisão – disse ele ao site.
Conversa. Está bem claro que ele responde à pergunta “O que o senhor faria se seu filho namorasse uma negra”, feita por Preta Gil.
Bolsonaro tem uma história de desrespeito ao ser humano. Posto aí em cima um vídeo onde, ao enfrentar manifestantes, ele diz que o erro da ditadura não foi ter torturado seus opositores, mas ter torturado e não ter matado.
O deputado Willys está trabalhando na representação, vamos fechar o texto juntos e eu o publico aqui, para que todos tomem conhecimento.

Jair Bolsonaro: a personificação do ódio

#Charge - Jair Bolsonaro, a personificação do ódio - #forabolsonaro #bolsonaronacadeia

O vídeo abaixo explica a charge do Latuff, a respeito desse defensor da ditadura, da violência, do racismo, da homofobia, enfim sentimentos e falácias contra os quais devemos lutar todos os dias. Esse cara é um grande filho da puta mesmo...




Aproveito para reproduzir artigo de Eduardo Guimarães, comentando a respeito do mesmo episódio.


Bolsonaro e clubes militares são faces da mesma moeda

Os clubes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica divulgaram, na tarde da última segunda-feira, nota conjunta para lembrar os 47 anos do movimento ilegal que derrubou do poder o presidente João Goulart por meio de golpe de Estado e que deu início ao regime militar, que durou até 1985, portanto mais de 20 anos.
A nota em questão foi mais uma da série de atos iguais que esbofeteiam a nação periodicamente ao exaltarem o regime criminoso que afundou o país, matou, torturou e roubou desbragadamente sem que ninguém pudesse dizer uma vírgula. Leiam essa peça patética, abaixo, que, em seguida, sigo comentando:
Há quarenta e sete anos, nesta data, respondendo aos reclamos da opinião pública nacional, as Forças Armadas Brasileiras insurgiram-se contra um estado de coisas patrocinado e incentivado pelo Governo, no qual se identificava o inequívoco propósito de estabelecer no País um regime ditatorial comunista, atrelado a ideologias antagônicas ao modo de ser do brasileiro.
À baderna, espraiada por todo o território nacional, associavam-se autoridades governamentais entre as quais Comandantes Militares que procuravam conduzir seus subordinados à indisciplina e ao desrespeito aos mínimos padrões da hierarquia.
A história, registrada na imprensa escrita e falada da época, é implacável em relatar os fatos, todos inadmissíveis em um País democraticamente organizado, regido por Leis e entregue a Poderes escolhidos livremente pelo seu povo.
Por maiores que sejam alguns esforços para “criar” uma história diferente da real, os acontecimentos registrados na memória dos cidadãos de bem e transmitidos aos seus sucessores são indeléveis, até porque são mera repetição de acontecimentos similares registrado pela história em outros países.
Relembrá-los, sem ódio ou rancor, é, no mínimo, uma obrigação em honra daqueles que, sem visar qualquer benefício em favor próprio, expuseram suas carreiras militares e até mesmo suas próprias vidas em defesa da democracia que hoje desfrutamos.
Os Clubes Militares, parte integrante da reação demandada pelo povo brasileiro em 1964, homenageiam, nesta data os integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela Nação Brasileira.
Novamente, um ato de insubordinação de militares contra um presidente apesar de que, nas democracias, presidentes são os comandantes-em-chefe das Forças Armadas. Os militares que divulgaram nota exaltando a ditadura militar deveriam ser presos por insubordinação, se a lei fosse cumprida em relação a esses que chantageiam a nação com ameaça de romperem de novo a ordem institucional se forem disciplinados.
A nota dos militares mente desbragadamente. Afirma que o golpe foi dado devido à vontade do povo, o que é uma mentira facilmente identificável porque, se o povo não apoiava mais o governo que elegera – do qual Jango Goulart era o representante –, bastava esperar a eleição seguinte.
A nota ainda diz que Jango pretendia instalar uma ditadura comunista. Outra mentira. Não havia nenhum exército sendo formado para isso. Não havia como enfrentar as Forças Armadas para romper a ordem constitucional. Só havia planos de uma reforma agrária ainda mais tímida do que a de hoje e a legítima ideologia de Jango.
Aliás, surgiu fortuitamente o melhor exemplo de quão energúmenos são esses fantasmas da ditadura que vivem assombrando o país: as declarações racistas, homofóbicas e criminosas que o deputado fascista Jair Bolsonaro, do PP fluminense, proferiu na TV no mesmo dia da nota insubordinada dos clubes militares, usando a imunidade parlamentar para delinqüir.
Entre outras barbaridades, Bolsonaro disse estas:
Que se “pegasse” um filho fumando maconha, o torturaria. E que nem lhe passa pela cabeça a hipótese de ter um filho gay porque deu aos seus filhos “uma boa educação”, dizendo-se um pai “presente”;
Questionado sobre cotas raciais, disse: “Eu não entraria em um avião pilotado por um cotista nem aceitaria ser operado por um médico cotista”;
Insultou a cantora Preta Gil, filha de Gilberto Gil, quando ela lhe perguntou o que faria se o filho se apaixonasse por uma negra. As palavras de Bolsonaro “Ô Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.
A conclusão que se tira de tudo isso é a de que oficiais militares acham que podem cometer crime de racismo, insubordinarem-se contra a presidenta da República, enfim, violarem as leis e afrontarem a sociedade sob proteção de ameaças veladas que fazem de nova ruptura institucional. Essa é a leitura que salta aos olhos, nesses episódios.
Bolsonaro e a verborragia espúria desses clubes militares constituem o melhor símbolo do regime criminoso de 1964. Quando militares dizem que estão preocupados com a nova novela do SBT, que versará sobre a ditadura militar, porque a obra os difamaria, deveriam refletir que ninguém consegue difamá-los mais do que eles mesmos.

Meu lado mulher

Reproduzo artigo de Frei Betto, publicado na EXCELENTE revista Caros Amigos. Sei que, para o dia das mulheres, é uma homenagem bastante atrasada, mas o texto é muito bom para passar batido.
Por Frei Betto
Meu lado mulher incomoda-se de receber homenagens num dia do ano - 8 de março -, enquanto meu lado homem se farta com 364 dias. Talvez se faça necessária esta efeméride, dor recente de uma cicatriz antiga. Porque vive-se numa sociedade machista: matrimônio - o cuidado do lar; patrimônio - o domínio dos bens.
O marido possui a casa, o carro e a mulher, que incorpora ao nome dela o da família dele. A casa, ele exige que se limpe todo dia. O carro, envia à oficina ao menor defeito. À mulher, ser multifacetado, cabe o dever de cuidar da casa, dos filhos, das compras e do bom humor do marido, que nem sempre se lembra de cuidar dela.
Meu lado mulher nunca viu o marido gritar com o carro, ameaçá-lo ou agredi-lo. Nem sempre, entretanto, ela é tratada com o mesmo respeito. Na Igreja Católica, os homens têm acesso aos sete sacramentos. Podem até ser ordenados padres e, mais tarde, obter dispensa do ministério e contrair matrimônio.
As mulheres, consideradas pela teologia vaticana um ser ontologicamente inferior, só tem acesso a seis sacramentos. Não podem receber a ordenação sacerdotal, embora tenham merecido de Jesus o útero que o gerou. o seguimento de Joana, de Susana e da mãe dos filhos de Zebedeu. a defesa da mulher adúltera. o perdão à samaritana; a amizade de Madalena, primeira testemunha de sua ressurreição
Meu lado mulher tem pavor da violência domestica. do pai que assedia a filha, jogando-a nas garras da prostituição; do patrão que exige préstimos sexuais da funcionária; do marido que ergue a mão para profanar o ser que deu à luz seus filhos.
Diante da TV ou da banca de revistas, meu lado mulher estremece: haja degradação! Ela é a burra, a imbecil que rebola no fundo do palco, expõe-se na casa do brother, associa-se à publicidade de cervejas e carros, como um adereço a mais de consumo.
Meu lado mulher tenta resistir ao implacável jogo da desconstrução do feminino: tortura do corpo em academias de ginástica; anorexia para manter-se esbelta; vergonha das gorduras, das rugas e da velhice; entrega ao bisturi que amolda a carne segundo o gosto da clientela do açougue virtual; o silicone a estufar protuberâncias. E manter a boca fechada, até que haja no mercado um chip transmissor automático de cultura e inteligência, a ser enxertado no cérebro. E engolir antidepressivos para tentar encobrir o buraco no espírito, vazio de sentido, ideias e utopia.
Meu lado mulher esforça-se por livrar-se do modelo emancipatório que adota, como paradigma, meu lado homem. Serei ela se ousar não querer ser como ele. Sereia em mares nunca dantes navegados, rumo ao continente feminino, onde as relações de gênero serão de alteridade, porque o diferente não se fará divergente. Aquilo que é só alcançará plenitude em interação com o seu contrário. Como ocorre em todo verdadeiro amor.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A guerra do futebol na TV




Reproduzo artigo de Laurindo Lalo Leal Filho, publicado na Revista do Brasil: 

Futebol não é apenas o esporte mais popular do Brasil. É também um programa de TV de grande audiência, assim como as novelas e os reality shows. Hoje a Globo, detentora dos direitos de transmissão de quase todas as disputas futebolísticas, determina os horários em que os jogos devem ser realizados para que se encaixem perfeitamente em sua programação. O resultado são partidas começando às 22 horas, tirando torcedores dos estádios e impondo aos atletas um ritmo de trabalho incompatível com a saudável prática esportiva.

Mas o monopólio absoluto acabou. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ligado ao Ministério da Justiça, determinou que, a partir de 2012, todas as emissoras terão o direito de disputar a transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro em igualdade de condições.

O fato desencadeou uma verdadeira guerra envolvendo clubes e emissoras. E não é para menos. O lance mínimo para aquisição dos direitos em relação à TV aberta é de R$ 500 milhões, havendo ainda em disputa as transmissões para o exterior e por outros meios, como TV por assinatura, pay-per-view, celular e internet.

São negócios milionários explorados numa longa cadeia comercial. A TV mostra para as agências de publicidade os números da audiência­ a ser obtida com as partidas de futebol e estabelece os preços a serem cobrados dos anunciantes. De outro lado, os clubes negociam com as emissoras os valores a serem recebidos pela exibição dos jogos e, com os patrocinadores, pela exposição de sua marca na camisa dos atletas durante as transmissões.

Com esse dinheiro pagam a seus principais jogadores salários astronômicos. Dentro da lógica estritamente capitalista não há o que contestar. Jogadores e clubes são tratados como produtos vendidos no mercado do entretenimento, com as emissoras no papel de intermediárias. Mas, observando um pouco melhor, percebem-se sérias distorções, causando prejuízos ao consumidor final, o telespectador.

Chega-se à esdrúxula situação de, numa cidade, determinado jogo passar em três canais. O curioso é que essas TVs vivem louvando o direito à livre escolha. Que escolha?

A primeira delas, a mais gritante, é a do monopólio que o Cade tenta corrigir. Ainda assim, a Globo estimula a divisão entre os clubes, tentando manter a exclusividade das transmissões, mesmo sob as novas regras. Forçou de todas as formas as negociações diretas com cada um, esfacelando o Clube dos 13, entidade que tratava coletivamente dos interesses de todos.

O poder da TV revela uma segunda e grave distorção: a submissão dos clubes às emissoras. Administrados de forma amadora, a maioria só sobrevive graças às chamadas “cotas de TV”. Quase todos recebem esses pagamentos antecipadamente, tornando-se reféns das empresas de comunicação. Estas, por sua vez, determinam os jogos que serão transmitidos e os respectivos horários.

Chega-se à esdrúxula situação de, numa cidade, duas emissoras de sinal aberto (Globo e Bandeirantes) e uma por assinatura (SporTV) transmitirem o mesmo jogo. O curioso é essas TVs, em seus telejornais, não se cansarem de louvar o direito à livre escolha. Falam até no poder que o telespectador teria ao se utilizar do controle remoto. Para quê? Para ver o mesmo jogo em outro canal?

A disputa pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2012 a 2014 girou em torno dos interesses das emissoras e dos clubes. Não se ouviu uma palavra sobre os direitos do telespectador.

Ele, que deveria ser o primeiro a ser ouvido, não é visto por clubes e emissoras como cidadão, a quem cabe, antes de tudo, receber um serviço público de qualidade. O telespectador é tratado apenas como um consumidor, cujo poder se resume a escolher o produto televisivo que melhor caiba em seu bolso.

Aquele com poucos recursos tem de se contentar com a TV aberta e ver o jogo que muitas vezes não lhe interessa. Quem for um pouco mais abonado pode assinar um canal fechado e, às vezes, assistir a um jogo diferente. E finalmente, para os mais ricos, há o caro pay-per-view, com uma oferta de partidas bem mais ampla.

Ainda bem que, apesar da TV, a qualidade do futebol brasileiro sobrevive. Só não sabemos até quando.

Família religiosa que esperava o fim dos tempos desaparece misteriosamente

Mais um exemplo do que o fanatismo religioso é capaz. Uma família inteira, que acreditou que os fins dos tempos estariam chegando, saíram de casa e desapareceram. A reportagem abaixo é extensa, mas bastante elucidativa em relação ao que ocorreu. Segundo informações do Rede Record, a família já foi encontrada no município de Ourinhos, interior de São Paulo. Como tudo o que posto aqui visa, em última instância, provocar nos leitores a reflexão, espero que isso ocorra: qual o limite que separa o religioso do fanático? Qual o papel que a bíblia desempenha nesse processo de alienação? Sei que são perguntas polêmicas, mas que considero necessárias ao nosso amadurecimento enquanto seres humanos.

McDonald´s: propaganda encobre abusos




Reproduzo artigo de Michelle Amaral, publicado no sítio da Alai:

“Uma vez eu estava com uma bandeja cheia de lanches prontos para serem entregues e escorreguei. Quando ia caindo no chão, meu coordenador viu, segurou a bandeja, me deixou cair e disse: 'primeiro o rendimento, depois o funcionário'”, conta Kelly, que trabalhou na rede de restaurantes fast food McDonald´s por cinco meses.

“Lá você não pode ficar parado, se sentar leva bronca”, relata Lúcio, de 16 anos, que há 4 meses trabalha em uma das lojas da rede na cidade de São Paulo. “Você não tem tempo nem para beber água direito”, completa José, de 17 anos. “Uma vez eu queimei a mão, falei para a fiscal e ela disse para eu continuar trabalhando”, lembra o adolescente. Maria, de 16 anos, ainda afirma que, apesar da intensa jornada de trabalho nos restaurantes, recebe apenas R$ 2,38 por hora trabalhada.

Os relatos acima retratam o dia-a-dia dos funcionários do McDonald´s. Assédio moral, falta de comunicação de acidentes de trabalho, ausência de condições mínimas de conforto para os trabalhadores, extensão da jornada de trabalho além do permitido por lei e fornecimento de alimentação inadequada são algumas das irregularidades apontadas por trabalhadores da maior rede de fast food do mundo.

Somente no Brasil, o McDonald´s tem mais de 600 lojas e emprega 34 mil funcionários, em sua maioria jovens de 16 a 24 anos.

“Quando se é adolescente, você vê as coisas acontecerem, mas não vê como assédio moral, nem nada do tipo. Mas as humilhações são constantes. Já fui puxada pela orelha por uma gerente por demorar em um atendimento”, completa Kelly.

As relações de trabalho impostas pelo McDonald´s são objetos de estudo de muitos pesquisadores. Do mesmo modo, pelas irregularidades recorrentes, a rede de fast food é alvo de diversas denúncias na Justiça do Trabalho.

Em São Paulo, o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis e Restaurantes de São Paulo (Sinthoresp), ao longo dos anos, tem denunciado as más condições a que são submetidos os funcionários do McDonald´s.

Recentemente, resultou em uma punição ao McDonald´s uma denúncia feita há quinze anos pelo sindicato ao Ministério Público do Trabalho (MPT) da 2ª Região, em São Paulo. Trata-se de um acordo que, além de exigir o cumprimento de adequações trabalhistas, estabelece o pagamento de uma multa de R$ 13,2 milhões.

Desse valor, a rede de fast food deve destinar R$ 11,7 milhões ao financiamento de publicidade contra o trabalho infantil e à divulgação dos direitos da criança e do adolescente durante os próximos nove anos. Além disso, a rede deve doar R$ 1,5 milhão para o Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O compromisso foi firmado em outubro de 2010 e passou a valer em janeiro deste ano.

As investigações realizadas pelo MPT a partir da denúncia do Sinthoresp confirmaram as seguintes irregularidades: não emissão dos Comunicados de Acidente de Trabalho (CAT); falta de efetividade na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes; licenças sanitárias e de funcionamento vencidas ou sem prazo de validade, prorrogação da jornada de trabalho além das duas horas extras diárias permitidas por lei, ausência do período mínimo de 11 horas de descanso entre duas jornadas e o cumprimento de toda a jornada de trabalho em pé, sem um local para repouso.

O MPT também apontou irregularidades na alimentação fornecida aos trabalhadores: apesar de oferecer um cardápio com variadas opções, o laudo da prefeitura de São Paulo reprovou as refeições baseadas exclusivamente em produtos da própria empresa por não atender às necessidades nutricionais diárias. Em relação à alimentação, o McDonald´s chegou a ser condenado, em outubro de 2010, pela Justiça do Rio Grande do Sul a indenizar em R$ 30 mil um ex-gerente que, após trabalhar 12 anos e se alimentar diariamente com os lanches fornecidos pela rede de fast food, engordou 30 quilos.

Processo

Segundo o advogado do Sinthoresp, Rodrigo Rodrigues, a denúncia feita em 1995 referia-se “aos maus tratos que sofriam os funcionários do McDonald's devido às várias reclamações deles aqui no nosso sindicato”.

O advogado do Sinthoresp relata que o MPT chegou a realizar uma consulta pública com todos os envolvidos no caso. Após isso, ajuizou uma ação civil pública em março de 2007. Em 2008, houve a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que estipulava prazos para o cumprimento das adequações.

Ao comprovar que as exigências não estavam sendo cumpridas, o MPT ameaçou aplicar uma multa milionária à rede. Para fugir da punição, o McDonald's firmou esse novo acordo em outubro de 2010.

De acordo com a procuradora do trabalho Adélia Augusto Domingues, o MPT está em processo de tratativas com a rede de fast food para a implementação de todas as adequações necessárias. “O processo terá o acompanhamento do Ministério Público do Trabalho em todas as etapas, até que as adequações sejam completamente realizadas”, afirma Domingues.

A procuradora acredita que o acordo firmado com a rede beneficiará os funcionários. “Esses ajustes são positivos e importantíssimos para os empregados da empresa, que na maioria são adolescentes que requerem, sem dúvida, cuidados especiais, em razão de encontrarem-se na fase do processo de desenvolvimento físico, mental e social”, defende.

A reportagem procurou o McDonald's que, através de sua assessoria de imprensa, encaminhou um comunicado no qual afirma que os termos do acordo se alinham com a cultura da empresa de respeitar as leis do país e contribuir ativamente nas comunidades onde atua. “Acreditamos também que campanhas educativas e a doação do equipamento médico, como consta do acordo, poderão beneficiar a sociedade como um todo”, diz o informe.

A rede

De acordo com dados do site do McDonald's, no ano de 2009 a rede estava presente em 118 países e possuía 31 mil lojas onde trabalhavam 1,6 milhão de funcionários. A sede mundial da McDonald's Corporation fica nos Estados Unidos e, nos demais países do mundo, a rede opera por meio de franquias.

O McDonald's chegou ao Brasil em 1979 e, desde 2007, a Arcos Dourados é a franqueadora do McDonald's no país e na América Latina. A Arcos Dourados tem como sócios os fundos Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o DLJ South America Partners, fundo ligado ao Credit Suisse, e o Capital International, do The Capital Group Companies. O lucro da rede de fast foods no Brasil em 2009, conforme informações do site, foi de R$ 3,45 bilhões. Já em 2010, em todo o mundo, o McDonald´s obteve lucro de 4,95 bilhões de dólares.

* Os nomes dos funcionários citados na matéria são fictícios.

** Franquia é um sistema comercial em que o detentor de uma marca cede a uma outra empresa o direito de uso de sua marca ou patente, infraestrutura e direito de distribuição de produtos e serviços.