Fonte: De olho no discurso
Não consigo tirar da cabeça o pastor calvinista aqui de Natal que teimou em afirmar a mim que não existe homofobia ou crimes de ódio contra homossexuais no Brasil. Contei essa história aqui e aqui. Alguém que tenta atropelar os fatos para confirmar suas posições ideológico-teolígicas não deveria merecer tanta atenção. Mas ele é um líder evangélico conhecido na cidade e um dos pastores de uma igreja razoavelmente numerosa por aqui.
Enfim. Na mesma semana em que escrevo sobre ele, pelo menos dois casos – sem contar as manifestações pró-Bolsonaro de hoje em São Paulo – revelam o peso da homofobia no país.
Enfim. Na mesma semana em que escrevo sobre ele, pelo menos dois casos – sem contar as manifestações pró-Bolsonaro de hoje em São Paulo – revelam o peso da homofobia no país.
O primeiro caso, relatei aqui: uma fazendeiro, em Goiás, matou ao lado de dois filhos a adolescente que namorava sua filha. O crime da moça era ser lésbica.
Ontem, outro crime horrendo, dessa vez registrado em vídeo, em Jaru, Rondônia. O rapaz de 17 anos é espancado por seis homens incentivados por uma mulher. O que ele fez para ser chamado de “safado” na gravação e ser espancado brutalmente? Ser gay. Você pode ler sobre o crime aqui e ver o vídeoaqui.
A insanidade de alguém que, por não concordar com o PLC 122, afirma não haver crimes cometidos por homofobia no Brasil se assemelha a quem diz que não há racismo por aqui. As ideias facistas que têm circulado com força, desde, especialmente, as eleições do ano passado, são perigosas para o nosso pleno convívio social. “Direitos humanos para humanos direitos”, “Bandido bom é bandido morto” e as teses contra homossexuais são espantosamente virulentas e, caso ganhem ainda mais espaço, terminarão por nos fazer sucumbir como civilização.
Ontem mesmo recebi mais um e-mail desse pastor. O presbiterianismo no Brasil costuma ter um forte discurso anti-católico, mas para espalhar suas asneiras não deve haver problemas em citar um católico conservador. O eleito desta vez foi o ministro da família do Vaticano, Ennio Antonelli, que afirmou uma teoria da conspiração global para fazer de metade da população global homossexuais em 20 anos.
A imbecilidade dessas ideias é tão descabida que o sujeito não percebe que não consegue fazer de um gay heterossexual: por que acha que o oposto poderia acontecer? Por que acha que alguém se tornaria homossexual sob influência de uma conspiração, ao mesmo tempo em que procura transparecer que acredita que a orientação sexual é algo da individualidade do sujeito? Porque, na verdade, não têm fundamento para afirmar suas ideias. São perdidos em busca de um discurso.
Sugiro que possam encontrar esse discurso na cruz. Querem crucificar os outros. O nosso Senhor esteve naquela cruz pelos desprezados, humilhados, explorados. Pelos que não eram. Por mim, hetero. Por Madalena, que tinha sete demônios. Pela adúltera, pelo publicano. Por que tem gente que teme em achar que Jesus quer ver os homossexuais espancados, mortos, julgados e condenados, como Ele mesmo foi? E por que defendem, com vieses cristãos de discurso e teologia, posições tão absurdas quanto as que dizem não haver homofobia em nosso país?
Nenhum comentário:
Postar um comentário