A parte que mais choca do quarteto de impérios empresariais que controla quase toda a comunicação no Brasil são os mercenários contratados para assassinar reputações e induzir preconceitos de todos os tipos, sobretudo raciais, de classe e regionais.
Dois dos pistoleiros mais asquerosos dos grupos Globo e Folha são, respectivamente, Ricardo Noblat e Fernando de Barros e Silva. São sujeitos ridiculamente preconceituosos que se julgam próceres do pensamento liberal moderno… Ou melhor, tentam se passar por isso.
No primeiro dia útil da semana, tal qual cavalaria, os dois mercenários vêm em socorro do deputado fascista Jair Bolsonaro a fim de reverterem o sentimento da sociedade de que um político desse jaez não pode ser um representante do povo no Poder Legislativo.
Abaixo, reproduzo dois textos indignos, desonestos, mentirosos, fascistas, irresponsáveis e, talvez, até criminosos.
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FOLHA DE SÃO PAULO
FERNANDO DE BARROS E SILVA
4 de abril de 2011
Fala tudo, Bolsonaro!
O deputado Jair Bolsonaro é um tipo fascistão. Truculento, homofóbico, lida mal com as diferenças e os valores democráticos. Os gays, em particular, parecem deixá-lo “maluca” de raiva.
Sabe-se que indivíduos muito hostis ou agressivos, que se sentem ameaçados pela existência de homossexuais, costumam ser enrustidos. O ódio projetado no outro é apenas um sintoma, uma defesa contra si mesmo. Mas quem seria eu para suspeitar que existe uma “Jairzona” enjaulada na alma do capitão? O ser humano é complexo.
A polêmica envolvendo esse personagem de almanaque tomou, no entanto, outro rumo. Discute-se se ele, com suas palavras, praticou o crime de racismo e os limites da liberdade de expressão no país.
Preta Gil lhe perguntou: qual seria sua reação se um de seus filhos namorasse uma negra? E ele: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Meus filhos foram muito bem educados. Não viveram em ambiente como lamentavelmente é o seu”.
Digo logo: um país em que Bolsonaro não fosse eleito deputado tenderia a ser um lugar melhor. Mas pretender cassá-lo ou condená-lo por racismo em função dessa fala me parece um grande equívoco.
Não só porque seria a melhor maneira de transformá-lo em vítima. Mas, sobretudo, porque o que ele fez foi apenas manifestar a sua opinião. Grosseira, retrógrada, mas que representa uma parcela da sociedade.
A liberdade de expressão nos garante a possibilidade de falar o que quisermos (nos limites da lei), mas também nos obriga a ouvir o que nos desagrada.Bolsonaro incitou o racismo? E se ele fosse um negro e dissesse que não gostaria de ver sua filha casada com um branco? Seria racista?
Devemos ser bastante restritivos em relação a atos racistas. Mas seria bom que fôssemos também mais elásticos e liberais em relação às palavras. Temos deficit de cultura democrática. Deixem Bolsonaro falar. Ele é o seu maior inimigo.—–
GLOBO.COM
Ricardo Noblat
O fascismo do bem
4 de março de 2011
Imaginem a seguinte cena: em campanha eleitoral, o deputado Jair Bolsonaro está no estúdio de uma emissora de televisão na cidade de Pelotas. Enquanto espera a vez de entrar no ar, ajeita a gravata de um amigo. Eles não sabem que estão sendo filmados. Bolsonaro diz: “Pelotas é um pólo exportador, não é? Pólo exportador de veados…” E ri.
A cena existiu, mas com outros personagens. O autor da piada boçal foi Lula, e o amigo da gravata torta, Fernando Marroni, ex-prefeito de Pelotas. Agora, imaginem a gritaria dos linchadores “do bem”, da patrulha dos “progressistas”, da turma dos que recortam a liberdade em nome de outro mundo possível… Mas era Lula!
Então muita gente o defendeu para negar munição à direita. Assim estamos: não importa o que se pensa, o que se diz e o que se faz, mas quem pensa, quem diz e quem faz. Décadas de ditaduras e governos autoritários atrasaram o enraizamento de uma genuína cultura de liberdade e democracia entre nós.
Nosso apego à liberdade e à democracia e nosso entendimento sobre o que significam liberdade e democracia são duramente postos à prova quando nos deparamos com a intolerância. Nossa capacidade de tolerar os intolerantes é que dá a medida do nosso comprometimento para valer com a liberdade e a democracia.
Linchar Bolsonaro é fácil. Ele é um símbolo, uma síntese do mal e do feio. É um Judas para ser malhado. Difícil é, discordando radicalmente de cada palavra dele, defender seu direito de pensar e de dizer as maiores barbaridades.
A patrulha estridente do politicamente correto é opressiva, autoritária, antidemocrática. Em nome da liberdade, da igualdade e da tolerância, recorta a liberdade, afirma a desigualdade e incita a intolerância. Bolsonaro é contra cotas raciais, o projeto de lei da homofobia, a união civil de homossexuais e a adoção de crianças por casais gays.
Ora, sou a favor de tudo isso – e para defender meu direito de ser a favor é que defendo o direito dele de ser contra. Porque se o direito de ser contra for negado a Bolsonaro hoje, o direito de ser a favor pode ser negado a mim amanhã de acordo com a ideologia dos que estiverem no poder.
Se minha reação a Bolsonaro for igual e contrária à dele me torno igual a ele – eu, um intolerante “do bem”; ele, um intolerante “do mal”. Dois intolerantes, no fim das contas. Quanto mais intolerante for Bolsonaro, mais tolerante devo ser, porque penso o contrário dele, mas também quero ser o contrário dele.
O mais curioso é que muitos dos líderes do “Cassa e cala Bolsonaro” se insurgiram contra a censura, a falta de liberdade e de democracia durante o regime militar. Nós que sentimos na pele a mão pesada da opressão não deveríamos ser os mais convictamente libertários? Ou processar, cassar, calar em nome do “bem” pode?
Quando Lula apontou os “louros de olhos azuis” como responsáveis pela crise econômica mundial não estava manifestando um preconceito? Sempre que se associam malfeitorias a um grupo a partir de suas características físicas, de cor ou de origem, é claro que se está disseminando preconceito, racismo, xenofobia.
Bolsonaro deve ser criticado tanto quanto qualquer um que pense e diga o contrário dele. Se alguém ou algum grupo sentir-se ofendido, que o processe por injúria, calúnia, difamação. E que peça na justiça indenização por danos morais. Foi o que fizeram contra mim o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas daí a querer cassar o mandato de Bolsonaro vai uma grande distância.
Se a questão for de falta de decoro, sugiro revermos nossa capacidade seletiva de tolerância. Falta de decoro maior é roubar, corromper ou dilapidar o patrimônio público. No entanto, somos um dos povos mais tolerantes com ladrões e corruptos. Preferimos exercitar nossa intolerância contra quem pensa e diz coisas execráveis.
E tudo em nome da liberdade e da democracia…
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Prossigo com meus comentários sobre o assunto. Começo pelo segundo texto, de Noblat. É de uma indigência mental sem precedentes comparar uma brincadeira de Lula feita em privado e vazada acidentalmente com a cruzada que trava Bolsonaro contra negros e homossexuais.
Lula é um humanista, que propôs e fez leis e promoveu medidas para diminuir a discriminação no Brasil. A brincadeira dele, há muitos anos, não difere da que a maioria dos homens heterossexuais – e até dos homossexuais – faz em privado. É diferente de fazer campanhas públicas contra homossexuais.
Não há um time de futebol ou boteco em que amigos tomam uma “geladinha” num happy-hour em que não se faça alguma piadinha com homossexualidade. É um hábito brasileiro que, aliás, tem que acabar. Mas difere muito de promover a discriminação, como faz Bolsonaro.
É como a alusão a Lula ter citado “loiros de olhos azuis”. Alguém já ouviu falar que loiros de olhos azuis são discriminados? Quem tem esse biotipo domina a propaganda e é chamado de pessoa “bonita”, enquanto que negros são excluídos da propaganda e chamados de “feios”.
Até parece que é preciso fazer leis para proteger pessoas de ascendência nórdica de continuada discriminação. É piada.
A lei que criminaliza o racismo foi criada para impedir o malefício que palavras causam aos negros. Eles são colocados à parte, têm piores empregos, salários e são excluídos dos ambientes sociais das classes altas justamente por conta das palavras que os atingem.
Já o incentivo retórico à discriminação de homossexuais, causa violência contra eles. Os jovens que andam espancando homossexuais – às vezes até a morte – começaram a odiá-los estimulados por palavras como as que Bolsonaro proferiu em uma concessão pública de tevê.
Como o ser humano tem gradações de capacidade de separar idéias ruins de atos ruins, ou seja, capacidade de não passar da agressão verbal para a agressão física, foi necessário tipificar a discriminação no código penal, ainda que só a discriminação racial.
O que Noblat e Barros e Silva fazem com seus textos tortos é incentivar a adição na sociedade do combustível que move os atos de violência e segregação contra homossexuais, negros, nordestinos e os demais alvos de preconceito. É o que chamam de “liberdade” para discriminar.
Fonte: Blog da Cidadania
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